terça-feira, 11 de novembro de 2008

TRÊS COISAS QUE O OBREIRO DEVE FAZER BEM


O Senhor, na Sua obra, conta com pessoas que se dediquem dentro daquilo que o Senhor os chamou a fazer (Jo. 15:16; I Pe. 1:12). Todas as coisas para o Senhor devem ser feitas com dedicação, cuidado, respeito, amor (Jr. 48:10), e tudo isso muitas vezes regado com lágrimas e dores como que de parto (At. 20:19; Gl. 4:19).
Paulo sempre falou da necessidade do obreiro ter qualidades, ser preparado, experimentado, esforçado no desempenho do ministério (ITm. 3:1-16; Tt. 1:5-16).
Escrevendo a Timóteo ele fala de três coisas que todo o obreiro deve fazer bem, e é sobre isto que estarei escrevendo nas linhas posteriores. Não é minha intenção valorizar uma mais do que a outra; todas são de extrema importância dentro do desempenho ministerial, por isso as escrevo na ordem como estão na bíblia. Para a realização de todas elas há necessidade de estar firmado em toda a Verdade. Devido às nossas faltas podemos até ser mais habilidosos em alguma coisa em relação a outra, mas aí vem a humildade (faço referência a esta virtude no final do tópico sobre governar bem) para reconhecermos e aceitarmos aqueles que o Senhor tem colocado ao nosso lado, e assim ser completo, para o bom desempenho de todo o serviço cristão.
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por digno de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e no ensino” – “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” – “Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério
(ITm. 5:17; IITm. 2:15; 4:5 – ECA – grifo meu).
1. GOVERNAR BEM: I TM. 5:17
Governar, no grego, em Timóteo é o mesmo que presidir em Romanos 12:8 [1]. Tem o sentido de estar à frente (de), liderar, dirigir. Pode se referir também a estar preocupado com, cuidar de, ajudar e ainda ocupar-se com, engajar-se em. Tem referência a liderança no lar (ITm. 3:4s; 12) ou na igreja (ITs. 5:12; ITm. 5:17).
Com relação à obra de Deus, o trabalho do Senhor, o sentido ao mesmo tempo em que é amplo, também impõe responsabilidade sobre o que governa; exigindo capacidade e preparo que vem pela graça aliada ao esforço pessoal diante do Senhor. Veja que Paulo diz “Temos diferentes dons, segundo a graça que nos é dada” (Rm. 12:6). A capacidade de governar, presidir, está entre o que podemos chamar de ‘dons do serviço’, os outros são exortar, repartir, presidir, usar de misericórdia. A graça é ampla: pela graça somos salvos (Rm. 5:15,18; 11:6; Ef. 2:5,8,9; Tt. 2:11) e pela graça servimos (Lc. 2:52; Rm. 1:5; ICo. 15:10; Ef. 4:7; Hb. 12:28).
A responsabilidade de todo o obreiro na seara do Senhor é totalmente com as coisas do Senhor, por ordem do Senhor, para o Senhor. Governar bem tem amplo alcance, envolve administração, cuidado, mordomia cristã, despensa cristã (ICo. 4:1-2; Tt. 1:7; IPe. 4:10).
Paulo, escrevendo a Timóteo refere-se aos presbíteros, isto é, os anciãos. A palavra presbítero já denota homem maduro, experiente, capaz. Porém Paulo faz menção daqueles que governam e acrescenta ainda com ênfase aos que trabalham na palavra e no ensino. Isto dá a entender que o presbítero – aquele que governa – deve estar intimamente ligado à Palavra, e buscar em Deus a aptidão para o ensino, ou seja, ser “apto para ensinar” (ITm. 3:2), para isso deve haver dedicação pessoal (Rm. 12:7; cf. Tt. 1:9). É importante notar a importância da Palavra e do ensino no desempenho da liderança; os que assim procederem são merecedores de duplicada honra; só se chega ao objetivo de uma boa liderança eclesiástica se o obreiro estiver de acordo com a Palavra de Deus. Quando se distancia da Palavra corre-se grande perigo (ISm. 13;13).
1.1 CRISTO GOVERNOU BEM
Olhando para os evangelhos e as cartas, temos em Cristo o exemplo perfeito a ser imitado, não há ninguém comparável a Ele. O escritor aos Hebreus diz que “Ele foi fiel ao que o constituiu [...]” (Hb. 3:1-3).
Cristo é o exemplo perfeito para todas as coisas concernentes a obra do Senhor (Jo. 15:5; ICo. 11:1; Ef. 5:1). Cristo teve o cuidado de fazer o que o Pai mandava (Jo. 5:19; 7:16; 8:28,29; 9:4; 14:31); deu importância à Palavra, ao discipulado, ao ensino (Jo. 4:41,42; 5:39; 6:60); tinha compaixão das multidões por causa das doenças físicas e também por causa do desgarro espiritual e procurava alimentá-las tanto espiritualmente quanto fisicamente (Mt. 9:27-29,36; 14:13-21; 15:29-39;
Mc. 8:1-13; Jo. 6:1-15); era afetivo (Mt. 8:3; 19:13-15; Lc. 5:13); tinha intimidade com os doze (Mt. 13:10-11; Mc. 4:10-12; Jo. 6:67-68; 15:15); tinha cuidado com as finanças (Mt. 22:15-22).
Através do exposto acima vemos que Cristo governou bem, com sabedoria, com prudência. Ele esteve junto, liderou na direção do Espírito Santo, se preocupou, ajudou, empenhou-se; Ele jamais teve a despensa vazia (Mt. 7:29; 13:52), pois estava em constante comunhão com o Pai. Sem dúvida alguma, Ele é o exemplo perfeito a ser seguido!
1.2 OS APÓSTOLOS GOVERNARAM BEM
Os Apóstolos procuraram governar segundo o que tinham aprendido e visto no Mestre. Foram eles discipulados por Cristo, e desejaram seguir o exemplo de Cristo deixado em todas as circunstâncias (Jo. 13:15).
Eles tiveram o cuidado de conduzir a igreja dentro do verdadeiro ensino da Palavra, e quando surgiu problemas com relação às questões sociais tomaram uma atitude na direção do Espírito Santo, e dessa forma não deixaram perecer nem uma nem outra coisa (At. 6:1-7).
Paulo teve o cuidado de levar bem-estar para as igrejas. Era um homem preocupado com o bom andamento da obra de Deus em todos os sentidos. Procurou ele não somente dar instruções como também praticar o que ensinava. Defendia o apostolado em sentido amplo, isto é, não somente o dele, mas dos demais Apóstolos (verdadeiros) (ICo. 9:3-14); procurou se portar com as igrejas pobres de forma a não ser pesado a elas (At. 18:1-3; IICo. 11:8-9; 12:16-17; ITs. 2:6,9) – nesse tempo em que as ambições materiais andam no coração de muitos ‘obreiros’, seria muito bom que esses ‘obreiros’ olhassem com acuricidade e temor para tais registros. Paulo teve muito cuidado com relação às finanças; quando recolhia ofertas, procurou não se envolver com dinheiro (I Co. 16:1-4), conquanto pedisse ajuda aos mais abastados para socorro dos mais pobres (IICo. 8:1 – 9:1-15). Paulo deu o exemplo também com relação ao ensino, a doutrina bíblica, ao ministério da Palavra (At. 20:18-21, 24-27; Rm. 1:8-12; Gl. 1:12; 5:16; Ef. 3:4; 14-21; ITm. 3:2; IITm. 4:1-2), na verdade, todas as suas cartas são cartas doutrinárias, umas endereçadas às igrejas, outras a obreiros, porém todas contendo instruções de fundamento doutrinário para edificação das igrejas e para aperfeiçoamento dos obreiros. Paulo tinha o cuidado de não ir além do que está escrito (I Co. 4:6); sabia colocar as experiências no devido lugar, jamais diminuindo a Palavra por causa de experiências (Gl. 1:8). Por isso a recomendação paulina de que “[...] sejam por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e no ensino” (ITm. 5:17).
Tiago, em sua epístola, traz conselhos práticos e repreensões fortes com relação à vida cristã. Sendo o Evangelho um modo de vida (Gl. 5:25), mostra-nos que abraçando-o pela fé deve se ter a disposição de vivê-lo intensamente sob a graça divina (Cl. 3:1-2). O ato de governar muitas vezes é colocado em prova diante do modo prático de se viver o evangelho. É assim que Tiago procura trazer aos cristãos as devidas responsabilidades espirituais, levando-os, ainda que num estilo forte, a refletir sobre as várias facetas do viver prático em Cristo. O assunto que estou debatendo é o governar bem, e para se chegar a tal objetivo dentro do plano divino é necessário se tomar posições mais firmes dentro de várias necessidades enfrentadas. Não podemos esquecer que o objetivo de Cristo é conduzir-nos a estatura de varão perfeito (Ef. 4:13; Cl. 1:28), e isto muitas vezes nos leva contrastar a teoria cristã com a prática, eis porque Tiago faz alusão contrastando a humildade com a fragilidade das riquezas (Tg. 1:9,10); exorta com relação ao ser tentado e como o caminho do pecado é sutil e mortal, mas que tudo o que é prefeito vem do Pai das luzes (Tg. 1:13-18). Em Tiago temos o conselho perfeito e a exposição prática de que governar bem muitas vezes exige posição firme, porém centrada no objetivo bíblico do crescimento espiritual (Tg. 1:2-4), com uma preocupação sadia por parte de quem governa, para levar o rebanho a viver plenamente o evangelho de Cristo em santificação. O objetivo aqui não é uma análise do livro de Tiago, por isso o conselho de que se leia com atenção e oração para entender sob a ótica do Espírito Santo a profundidade teológica deste livro. Isto acrescentará e muito para todo aquele que deseja governar bem.
As epístolas de Pedro também trazem profundidade bíblica para o bom desempenho do trabalho do presbítero – é importante notar que Pedro se intitula como servo e Apóstolo (II Pe. 1:1) – veja bem: primeiro servo, depois Apóstolo – e realmente era. Pedro mostra como deve ser o bom procedimento cristão, faz forte referência sobre a vida familiar, não deixando de trazer o ensino teológico sobre a Pessoa de Jesus e o apascentamento do rebanho de Deus. A segunda carta ocupa-se inteiramente com o ensino teológico e teocêntrico com relação à vida cristã, aos falsos mestres e o Dia do Senhor. Aquele que governa bem tem a responsabilidade de despertar pensamentos puros na mente da igreja (IIPe. 3:1; cf. Fp. 4:8).
O Apóstolo João, presbítero (IIJo. 1; IIIJo. 1), também fala sobre a amplitude do evangelho de Cristo. Ocupa-se ele a trazer para a igreja, a senhora eleita, ensinos práticos, e também profundamente teológico e teocêntrico para edificação espiritual. Fala de verdades profundas sobre o amor, o viver na luz, as questões doutrinárias (destes últimos dias) contrárias à bíblia – os anticristos e os falsos espíritos –, e por fim da necessidade e da alegria que produz o andar na Verdade, para quem faz como para quem ensina.
Por fim Judas traz em sua breve epístola, a necessidade, para aquele que governa, de que deve estar intimamente ligado com toda a Verdade doutrinária bíblica. Assim conduzirá a igreja pelo caminho da Verdade, livrando-a de cair nas garras dos falsos mestres e, através do ensino edificá-la sobre a santíssima fé em oração (v. 20).
Esse breve relato tem por objetivo vermos a importância que tem o preparo para o presbítero – o obreiro. Pois não temos somente seus escritos, mas também o exemplo de que governaram bem sobre o rebanho do Senhor. Só governa bem aquele que estiver alicerçado em toda a Verdade. O Senhor é poderoso para suprir as necessidades de cada um, pois cada pessoa tem suas individualidades, suas competências, dificuldades, virtudes e capacidades; o Senhor sabendo disso, dispõe a cada um a virtude chamada humildade para ver e ocupar aqueles que o Senhor colocou ao seu lado com diferentes dons (Rm. 12:6a) a fim de auxiliar-lhe, pois governar bem não significa governar sozinho (Ex. 18:1-27; Js. 2:1; Jz. 4:4,6,18-24; 6:11; 7:4-6; II Rs. 22:8-11; Ed. 7:25; At. 14:21-23; I Co. 4:17; 16:10; 12:27-29; Ef. 4:11; Cl. 4:7-9; ITm. 1:3-4; IITm. 2:2; Tt. 1:5). Podemos ver assim que governar bem glorifica o nome Deus e edifica a igreja; enquanto que governar sozinho denota domínio (controle completo, assenhorear-se, ser senhor), o que não cabe ao servo do Senhor, e não edifica o Corpo de Cristo (IICo. 1:24; IPe. 5:2-3).
O servo do Senhor para governar bem deve buscar no Senhor visão ampla (IRs. 3:9), conhecer-se a si mesmo (IRs. 3:7) e, em Cristo, buscar as habilidades necessárias para governar bem, segundo o que o Senhor quer (Rm. 12:3,6a; I Co. 1:1:6-11; 4:1-2; IICo. 11:6; ITm. 4:15; IITm. 1:6-7; 2:1-7; Tt. 1:5; 2:1; 3:8; Tg. 1:5-6).
2. MANEJAR BEM A PALAVRA DA VERDADE – II TM. 2:15
A Palavra de Deus é a Verdade Suprema. É por ela que conhecemos como o mundo foi formado; sabemos a origem de todas as coisas criadas por Deus; a Palavra é um dos meios da revelação de Deus aos homens. A importância e o objetivo da Palavra são proferidos pelo próprio Deus aos instruir Moisés: “Disse mais o Senhor a Moisés: escreve estas palavras, pois conforme o teor destas palavras fiz aliança contigo e com Israel” (Ex. 34:27).
É pela Palavra que conhecemos a respeito da nossa queda e também do meio de redenção em Cristo; por ela somos instruídos no conhecimento de Jesus Cristo; e ouvindo-a somos despertados na fé para a salvação (Rm. 10:17). A Palavra de Deus é de profundeza imensurável (Rm. 11:33), revelada pelo Espírito Santo (ICo. 2:10).
Deus é sábio. Ele sempre escolheu homens para propagarem a Sua verdade ao mundo. Ele poderia ter escolhido os anjos, pois para isso atentavam (I Pe. 1:12), mas ele preferiu homens, a Sua escolha é soberana. Por mais que sejamos falhos, tenhamos pecado, somos profundamente limitados; para Ele isso não importa, ele nos escolheu, nos chamou para salvação e para o serviço, nomeando-nos para frutificarmos a favor do Seu reino.
2.1 ATENÇÃO! TOMEMOS CUIDADO
Neste tópico estarei falando sobre manejar bem a Palavra da verdade. Essa recomendação exortativa é aplicada diretamente a todo aquele que deseja ou está inserido como ministro do Evangelho (ITm. 3:1-2).
Para exercermos qualquer profissão precisamos de empenho, dedicação, qualificação, interesse, crescimento, atualização; quanto mais para lidar com as coisas eternas! A exigência é muito maior – não importa se ignoramos isso – a verdade é que Deus quer que todo obreiro maneje bem o importantíssimo instrumento deixado, para dele fazer uso em todas as circunstâncias da batalha – a Palavra da Verdade.
Estamos vivendo uma época muito difícil no meio religioso mundial. A Palavra de Deus tem sido usada com tanta irresponsabilidade que por vezes ficamos estupefatos diante de tantas aberrações e inovações que estão forçosamente sendo justificadas como doutrina bíblica.
Hoje se toma em mãos a Palavra de Deus para escrever livros sobre as mais diversas áreas do conhecimento: é sobre liderança empresarial, psicologia, modelos de empreendimentos, como aumentar a receita capital de empresas, como determinar-se para se dar bem na vida, e por ai vai. São usos totalmente alheios e de nenhum compromisso com a Palavra da Verdade.
Pior do que isso, são as aberrações surgidas dentro do meio evangélico, temos visto doutrinas levantadas por ‘líderes espirituais’ e por ‘igrejas’ com base em experiências [2], e estas sendo encaixadas a qualquer modo e de qualquer jeito dentro do contexto bíblico. Não se tem respeito a exegese e a hermenêutica bíblica, quanto mais a Verdade esposada nas Escrituras. Pois quem ignora essas duas ferramentas para a interpretação da bíblia, está deliberadamente aceitando todas as inovações e/ou inverdades que tem se fundamentado na Palavra de Deus, e ainda as propagando para o rebanho.
a. Com ‘base bíblica’ muitos estão invertendo os papéis, colocando Deus na obrigação de me dar tal ou tal coisa, me responder em até tantos dias (ou horas), para isso tem tomado mão do determinar – eu determino e Deus tem que fazer. A base para tal aberração é o uso errado do termo grego aiteõ, que dizem significar “exigir” ou “determinar”, mas na verdade significa atitude suplicante diante de Deus. O cristão deve ter diante de Deus uma atitude de humildade e dependência (Mt. 7:7,8; Jo. 14:13; 15:16; Dt. 10:12; Mq. 6:8). Em Filipenses 4:6 Paulo faz referência à súplica para levarmos diante de Deus nossas necessidades. Ele não escreveu para determinarmos alguma coisa com relação às ansiedades da vida. Davi e Pedro concordam com relação ao descansar no Senhor (Sl. 55:22; IPe. 5:7), lançar sobre o Senhor as nossas ansiedades denota confiança, enquanto que determinar denota autoridade, porém o cristão não tem autoridade sobre Deus.
b. Veja o que disse o ‘pregador astro’ Benny Hinn: “Nunca, jamais, em tempo algum, vá ao Senhor e diga: ‘se for da tua vontade...’ Não permita que essas palavras destruidoras da fé saiam de sua boca”. Pergunto: estaria Jesus errado? (Mt. 6:10; Lc. 22:42; Jo. 5:30; 6:38; Hb. 10:7), e os Apóstolos também? (At. 21:14; Rm. 12:2; IICo. 12:7-10; Ef. 5:17; 6:6; ITs. 4:3; 5:18; Hb. 10:36; 13:21; Tg. 4:15; IJo. 2:17).
c. Ainda com ‘base bíblica’ tem se cultuado a anjos. É anjo pra todo lado, é anjo forte e até tem surgido a troca de anjo, pois agora acharam o anjo fraco que deve ser trocado (barganhosamente) por um anjo mais forte. Tomamos cuidado! Os gnósticos adoravam aos anjos (Cl. 2:18); e há anjos caídos que se transformam em anjos de luz para enganar (IICo. 11:13,14). Muitas vezes sutilmente tem se dado mais ouvido às palavras de anjos do que à Palavra da Verdade (Jo. 12:28-30; Gl. 1:8; I Rs. 13:18).
d. A obra da cruz tem sido anulada. Não foi Cristo que venceu na cruz como diz a bíblia. Outro ‘astro dos púlpitos evangélicos’, Kenneth Copeland, declarou: “Satanás venceu Jesus na Cruz”. Mas o que dizer da Palavra da Verdade? (ICo. 1:18; Cl. 2:15; Hb. 2:14,15; Fp. 3:18).
e. A estratégia satânica, “sereis como Deus”, continua em alta – usando como base textos isolados (Sl. 82:6; IIPe. 2:4) tem se afirmado que o homem é um pequeno deus, veja o que disse outro ‘grande pregador’: “você não está olhando para Morris Cerullo – você está olhando para Deus, está olhando para Jesus”. Coincidência? (leia: Mt. 24:4-5; cf. Mt. 7:21-23).
Podemos perguntar: não são todos ‘grandes’ teólogos? Sim. Porém tenhamos cuidado com o evangelho em que a teologia é o centro, pois para o verdadeiro cristão o que vale é o evangelho cristocêntrico, isto é, Cristo como centro e não a teologia como centro, pois se a teologia não estiver de acordo com a Verdade, não é verdade (IIPe. 1:20-21). Exemplo? Teologia romanista; teologia adventista; teologia da torre de vigia (Testemunhas de Jeová); teologia da prosperidade; teologia espírita; etc.
O obreiro deve ter muito cuidado com isso: “Meus irmãos, não sejais muitos de vós mestres, sabendo que receberemos um juízo mais severo” (Tg. 3:1) – pense bem antes de se lançar afoitamente para manejar a Palavra perante a Igreja, a Noiva amada. O senhor tem muito zelo por Sua Noiva (Ef. 5:25-27).
Calvino disse: “não é função do Espírito que nos foi prometido configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante a qual sejamos afastados do ensino do evangelho já recebido; ao contrário, sua função é selar-nos na mente aquela mesma doutrina que é recomendada através do evangelho” (João Calvino. As Institutas. Livro I).
Conforme exposto acima concluímos que quão grande é o desafio para manejar bem a Palavra da Verdade nos dias de hoje. As igrejas estão cheias de inovações e modismos, e são poucos (pouquíssimos) os pastores que tem se posicionado de forma bíblica contra estas coisas – é preferível deixar a coisa correr em nome das experiências. O povo quer, fazer o quê? Devido a isso elas vão entrando, tomando lugares privilegiados nos cultos e, pior ainda, no coração dos crentes. Insisto de que a responsabilidade é dos que estão à frente das igrejas, os que estão liderando, colocados por Deus (nem sempre) para cuidar do rebanho (At. 20:20,21,26,27; ICo. 2:6-8; IICo. 11:6; Gl. 1:10,11; Ef. 4:17-16; ITm. 4:16; IITm. 4:1-5). Se estes falham pouca esperança resta (IICr. 15:3; Is. 28:7; Ez. 44:10-14; Mq. 3:11; Ml. 2:7-9; Mt. 13:52; Lc. 10:31). Contudo não podemos ignorar a solitária voz que clama no deserto (Ez. 44:15-16; Lc. 3:1-9) – a minha firmeza é que a Igreja pertence ao Senhor e Ele amorosamente cuida dela.
Infelizmente essas coisas têm distanciado os crentes da Bíblia. De uma forma sutil está acontecendo o que declaradamente a Igreja Católica Romana fez em tempos passados: proibir o povo de ler a bíblia. Exagerei? Veja bem: é conferido na Bíblia tudo o que é ouvido nos púlpitos? Quem questiona os ‘grandes homens’ de Deus, suas ‘revelações’ e inovações? Quem confronta com a Bíblia as pregações e acontecimentos de um culto? Deus deu à Igreja meios eficazes para julgar e discernir todas as coisas, o pastor Ciro aponta alguns [3]: julgamento segundo a reta justiça; (Jo. 7:24); teste pela Palavra de Deus (At. 17:11; Hb. 5:12-14); sintonia do corpo com a Cabeça (Ef. 4:14,15; I Co. 2:16; I Jo. 2:20,27; Nm. 9:15-22); Dom de discernir os espíritos (ICo. 12:10,11; At. 13:6-11; 16:1-18); bom senso (ICo. 14:33; At. 9:10,11); nos caso de profecia, cumprimento da predição (Ez. 33:33; Dt. 18:21,22; Jr. 28:9), se bem que só o cumprimento não é suficiente para autenticá-la (Dt. 13:1,2; Jo. 14:23a); vida do pregador, profeta ou milagreiro (II Tm. 2:20,21; Gl. 5:22).
Aquele que maneja bem a Palavra da Verdade deve pensar seriamente, debruçado na Palavra, sobre estas coisas.
2.2 “PROCURA APRESENTAR-TE A DEUS APROVADO...”
Procura fala de diligência ministerial, zelo persistente. Deus nos escolhe de forma geral para frutificarmos (Jo. 15:16) e de forma específica para o desempenho ministerial (ICo. 12:4-7; Ef. 4:11; IITm. 1:6), segundo a graça (Rm. 12:6a; ICo. 15:10). A diligência do obreiro com relação às coisas de Deus faz parte do preparo necessário para o desempenho ministerial.
Jesus sendo Deus-homem teve o cuidado de crescer na graça e no conhecimento (Lc. 2:52); Jesus venceu as sutis investidas do inimigo por que conhecia a Verdade (Mt. 4:1-11), debatia com os religiosos da época por que tinha conhecimento de toda a Verdade. Paulo também é exemplo (Gl. 1:11,12,18), o versículo 18 diz que Paulo subiu a Jerusalém para ver a Pedro. A estada de Paulo com Cefas foi um aprendizado sobre a nova fé. A palavra istorew significa aprender sobre; visitar para conhecer melhor, “visitar lugares ou pessoas” [4]. Podemos ver nestes textos que Paulo teve e revelação do Evangelho, mas também procurou ter conhecimento sobre as coisas relacionadas às igrejas e a propagação do Evangelho.
Para Timóteo Paulo escreve: “persiste em Ler” (ITm. 4:13). A palavra persiste, no original, está no tempo presente e aponta para uma ação contínua, implicando também “preparação particular previa” [5]. Ler é uma atitude de diligência pessoal para apresentar-se diante de Deus aprovado e também aponta para o poder de expor corretamente. Muitos hoje têm baseado seu preparo em DVD’s de ‘grandes pregadores’ e dessa forma ensaiam pregações em frente das telas e na igreja aplicam seus ‘conhecimentos e habilidades’ em movimentos pentecostais, ou melhor, modismos ‘pentecostais’; estudos e esboços preparados por outros, etc. Não é essa diligência que Deus quer (Tt. 1:5,9; Tg. 1:5,6; IIPe. 1:3-9; IJo. 1:1-4), mesmo que isto não é diligência, mas sim preguiça, o que denota relaxamento em fazer a obra. Não sou contra o uso de recursos que estão a nossa disposição, mas negligenciar a Palavra da Verdade é erro grave. O ministro deve ser amante em primeiro lugar da Palavra, tem o direito em valer-se de vários recursos existentes, porém analisando se todas as coisas estão conformes à luz da Palavra da Verdade. Paulo era amante dos livros, mas não negligenciou em momento algum os pergaminhos, provavelmente, neste caso, as Escrituras do Velho Testamento (IITm. 4:13).
Moisés teve grande diligência em fazer as coisas referentes ao Tabernáculo conforme o modelo do Senhor (Ex. 25:9; 26:30; 31:11b). Para Josué o principal conselho era a diligência com a lei (Js. 1:7-8). Josias teve grande diligência com o livro de lei (IIRs. 22:1-20 – 23:1-30). Artaxerxes reconhecia Esdras como “escriba da lei do Deus dos céus” e homem com sabedoria de Deus (Ed. 7:21,25; cf. Ne. 8-9).
O obreiro precisa ter diligência e zelo com relação à Palavra da Verdade, pois o Senhor é poderoso para dar entendimento, e sabedoria, e poder no Espírito para a propagação de toda a Verdade segundo toda a Verdade (ICo. 2:1-5; cf. Ex. 31:1-11).
2.3 “MANEJAR BEM A PALAVRA DA VERDADE”
A procura diligente em apresentar-se aprovado levará, sem dúvida alguma, o obreiro a manejar bem a Palavra da Verdade. Para manejar bem é necessário muito estudo aliado a oração.
O ato de manejar está intimamente ligado ao uso correto da hermenêutica e exegese bíblica. Manejar, no original grego é ortomew e tem a idéia de “cortar uma linha reta, cortar uma estrada reta. A metáfora pode ter as seguintes realidades como base, fazer uma linha reta com o arado; construir uma estrada em linha reta, ou um pedreiro cortando uma pedra para colocá-la em seu lugar próprio, ou, ainda, o corte de um sacrifício ou alimento para uso da casa” [6].
É importante termos em mente (e no coração) que a Palavra de Deus não é um livro para ser usado ao bel prazer do obreiro, isto é, como ele quer. Não é um quebra cabeça de se ajuntar peças daqui ou dali para ver a figura que vai dar. A Palavra tem uma linha a ser seguida.
É necessária a busca, por parte do obreiro, pelo conhecimento de toda a Verdade. Graças a Deus, temos hoje, de fácil alcance, à disposição, vários recursos que no passado eram tão difíceis. Hoje não é difícil fazer um curso teológico, não é difícil estudar sobre as línguas originais e se não puder ter conhecimento profundo das mesmas, pelo menos se ter uma boa base para fazer uso quando as circunstâncias exigirem. Não é difícil estudar hermenêutica, ferramenta por demais importante para qualquer estudante da bíblia. São bastante amplas as facilidades hoje existentes para o estudo (contudo devemos ter o cuidado com quem estamos aprendendo e a origem de tal e tal escola e/ou ensino).
Estamos vivendo hoje o tempo das coisas rápidas, tudo é rápido hoje. Porém para o conhecimento, principalmente da Palavra, com o objetivo de manejar bem, não é tão rápido assim. Exige estudo, dedicação, comparação, pesquisa, humilhação, dependência, etc. No sentido mais profundo da palavra fazer, não é possível se fazer um obreiro da noite para o dia (ITm. 3:6), mas infelizmente isto está acontecendo em grande demanda no meio evangélico. Só um exemplo: basta ir alguém pregar no exterior, que na volta, ele já se intitula como conferencista internacional; daí diz que saiu da roça, onde ninguém o conhecia, era o menor e Deus o colocou em tal posição – Quanta invencionice! Quanta bobagem! – É uma falsa humildade em nome de outros interesses. Amós saiu detrás dos bois, mas nunca deixou de falar toda a Verdade (Am. 7:10-17), e jamais arrogou para si direito algum sobre qualquer título de importância humana; pagou o preço por ser Profeta do Senhor.
a. Para manejar bem é preciso seguir a Cristo (Mt. 4:19): temos que ter o cuidado de estar aos pés de Cristo, isto é, ser humilde diante do Senhor, pois é Ele que exalta (Tg. 4:10; I Pe. 5:6). Os discípulos aprenderam ouvir ao Senhor, ver Seu exemplo, andar em seus passos, caminhar conforme Ele caminhava. Como poderemos fazer isso hoje? Examinado a Palavra (Jo. 8:39). É a Palavra que testifica de Cristo, é nela que encontramos todas as coisas a respeito dEle, examinando a Palavra estaremos seguindo a Cristo. Se a mensagem do obreiro não for cristocêntrica, é porque ele não está seguindo a Cristo. Fala sobre a Palavra de Cristo, mas não vive na prática o seguir a Cristo. A primeira pregação pentecostal teve a Palavra como centro, exaltou a Cristo (At. 2:14-36); a pregação de Estevam apontava para Cristo e a obra do Espírito Santo em Israel (At. 7:1-60); a mensagem de Paulo e dos demais Apóstolos era centrada na obra da cruz (ICo. 1:18; Gl. 1:3-5; 5:1; Ef. 1:3-10; IITm. 2:1, 8-13; Hb. 1:1-4; IPe. 1:13; IJo. 1:1-4).
b. Para manejar bem é preciso depender do Espírito Santo (Jo. 14:26; 16:13): hoje há muita coisa acontecendo e sendo atribuída como obra do Espírito Santo, no entanto não é. O Espírito Santo jamais a de ir contra a Palavra, contra as Escrituras. Jesus disse que “Ele não falará de si mesmo”, o Espírito Santo está em sintonia com a Trindade, pois Ele é a terceira Pessoa da Trindade. Pode ter certeza, Ele não faz coisas confusas, Ele não inventa, Ele não cria modismos – o Espírito Santo não faz ninguém rugir como leão, latir como cachorro, uivar como lobo, serpentear pelo chão, cair no ‘espírito’ (digo cair e não prostrar-se diante da glória do Senhor, em humilhação e adoração (IICr. 5:13-14; Ez. 1:28; Ap. 1:17); o Espírito Santo não traz nova unção, nova revelação, unção do leão, unção fresca. Se todas estas coisas podem ser atribuídas ao Espírito Santo, não poderemos negar (mesmo que com base na Palavra) que o movimento carismático no meio do catolicismo romano seja do Espírito Santo também, mesmo que estejam abraçados a idolatria. Pois falam em línguas estranhas, curam, profetizam; vi um dia num programa na televisão um padre profetizando cura para um caso específico que disse ter-lhe sido revelado naquele momento. Tomemos cuidado! (Mt. 7:21-23). Paulo falou aos coríntios lhes chamando de carnais, conquanto jactavam-se estar cheios do Espírito (ICo. 3:1).
Depender do Espírito Santo é fundamental para manejar bem. O obreiro que depende do Espírito Santo não fala de si mesmo, mas fala segundo a Verdade; não traz outro evangelho em nome de experiências próprias (Gl. 1:8), mas fala segundo o que está nas Escrituras. João refutando os ensinos heréticos de seu tempo, e extensivo a nós, disse que o Espírito ensina, Ele é a unção que está sobre todo o crente (IJo. 2:20,27). Somente o Espírito Santo é capaz de penetrar as profundezas de Deus (ICo. 2:10); veja que Paulo teve revelação pelo Espírito Santo, porém nunca trouxe modismos e confusões. O obreiro que está em sintonia com o Espírito Santo faz as coisas conforme Ele quer, maneja bem a Palavra da Verdade porque está cheio do entendimento e sabedoria do Espírito Santo; Paulo jamais oraria para igreja ter o que ele mesmo ainda não tinha (Ef. 1:15-17; Cl. 1:9-14), por estas passagens vemos que Paulo era um homem cheio de entendimento, sabedoria e tinha a revelação dada pelo Espírito Santo.
c. Para manejar bem é preciso ter coragem (IITm. 4:1-5): não é necessário falar muito sobre este item. Diante do que vimos acima acredito que quem segue a Cristo e depende do Espírito Santo certamente terá a coragem necessária para a propagação de toda a Verdade.
Estamos vivendo o tempo descrito como tempo em que não suportarão a sã doutrina, mas não importa, a exortação dada pelo Espírito Santo é “prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino”. Não estou falando de uma coragem bruta, mas sim, no poder e autoridade do Espírito Santo. Paulo diz que por mais que seja um tempo assim, é necessário ser longânimo, sóbrio, sofredor. O obreiro sempre tem um preço a pagar, e parece que à medida que chega o fim dos tempos mais perto do fim mesmo, o preço aumenta.
Pregar a são doutrina nos tempos hodiernos parece ser coisa de outro mundo, pois estamos no tempo de ‘novas revelações ou divinas revelações’, que contrariam a Palavra da Verdade. Mas é o que deve ser pregado a tempo e fora de tempo, não importa se o obreiro seja tachado como fora de época ou esteja indo na contramão de ‘grandes homens de Deus’ (IICo. 11:5,13), o importante é estar dentro do plano de Deus e fazendo o que lhe agrada (Lc. 12:43; At. 20:24).
3. CUMPRE BEM O TEU MINISTÉRIO – II TM. 4:5
Ministério aqui se refere obra a ser feita dentro do chamado do Senhor. Tudo o que escrevemos até aqui denotam a responsabilidade com relação ao ministério. Creio que se obreiro estiver em sintonia com a sã doutrina, empenhado em anunciar toda a Verdade já estará em caminho de cumprir bem o seu ministério. Ninguém conseguirá cumprir bem se começar a negligenciar nas coisas básicas da fé cristã, e para isso, precisamos atentar com acuricidade para toda a Palavra da Verdade.
Dando uma olhadinha no Velho Testamento temos a descrição de homens que cumpriram bem com suas responsabilidades diante de Deus. A Palavra de Deus diz que Moisés foi fiel em toda a sua casa (Hb. 3:2), isto é, Moisés teve o cuidado de conduzir o povo de Deus em toda a lei, pois foi por meio dela que Deus fez aliança (Ex. 34:27). Detendo-se um pouco no Pentateuco chegaremos a profundos conhecimentos e exemplos para o bom desempenho ministerial. Temos ali o início do sacerdócio; a profecia; a verdadeira instrução com relação a todas as coisas de Deus concernentes a Israel para aquele tempo, com relação ao serviço a Deus. Enfim, a riqueza é muito grande.
Josué foi também uma grande líder em Israel. Procurou ele servir a Deus com fidelidade e diligência, reconhecendo que Deus havia feito todas as coisas, sendo ele apenas servo no cumprimento do propósito divino (Js. 23:1-3).
Samuel foi um sacerdote de ilibada conduta, conduziu o povo com sabedoria e dentro do plano divino; procurou levar o povo a ter maturidade com relação às coisas espirituais (ISm. 7:1-6), e no final de seu ministério teve o testemunho da própria nação “[...] em nada nos fraudaste, nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém” (ISm. 12:4). Foi um homem de profundeza de caráter e acima de tudo temia ao Senhor sobremaneira.
Poderíamos citar muitos outros do Velho Testamento, mas cabe também uma pesquisa pessoal a quem deseja conhecer a vida dos reis, profetas e sacerdotes. Como eles agiram, o que fizeram, como se apegaram ou rejeitaram ao Senhor – é algo valioso para estudo, empenhe-se e Deus te abençoará.
Todo obreiro tem um ministério a cumprir. Cabe a cada um descobrir diante do Senhor o que Ele quer que faça. Paulo disse que importava cumprir com alegria a carreira e o ministério recebido do Senhor (At. 20:24). Paulo foi o homem que levou mais longe o Evangelho, era o ministério dele. Envolvia viagens missionárias, abertura de igrejas, colocação de obreiros, no seu dizer, eleição de anciãos (At. 14:21-23). Assim chegou ele ao final e pôde dizer “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (IITm. 4:7).
O cumprimento do ministério de Timóteo se deu em meio a fortes combates, e isto contra ‘mestres’ do conhecimento (IITm. 4:3), mas não deveria ele recuar, pois tinha visto em seu pai (ITm. 1:2; IITm. 1:2) combate semelhante (Fp. 1:30; IITm. 2:3), o que deveria servir-lhe de exemplo para cumprir bem seu ministério.
Para cumprir bem o ministério é necessário estar fortificado no Senhor; sofrer as aflições como bom soldado; não se embaraçar com coisas fora do ministério ou que venha denegrir o caráter ministerial; lutar com legitimidade (IITm. 2:1-13); pregar a Palavra; admoestar; repreender; exortar; ter sobriedade (IITm. 4:1-5); entre outras coisas esposadas nas Epístolas.
Pedro também procurou cumprir bem seu ministério, tendo integridade ministerial e deixando exemplo para ser lembrado e praticado após a sua partida (IIPe. 1:15); João igualmente tinha cuidado no cumprimento ministerial sempre apontando para Cristo (IJo. 5:13). Além da história bíblica temos o testemunho da história o cristianismo sobre os Apóstolos, e por aí também vemos como eles se empenharam na diligência para cumprir bem o ministério.
Não se faz necessário escrever mais. Apenas finalizo dizendo que é impossível cumprir bem o ministério se o obreiro não der a devida atenção e proeminência à Palavra da Verdade na sua vida particular e no seu ministério diante da igreja.
Para finalizar vejamos o que Paulo disse a Timóteo: “Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (II Tm. 2:7). Considerar, νόει no grego, tem como significado desenvolvermos em nós o ensino exposto na Palavra de Deus.
________________________________________
1 . Não é o mesmo governar de ICo. 12:28, aqui é um dom sobrenatural. A palavra usada no grego é κυβερνήσεις (encontrada somente neste texto no NT) e tem o significado de administração, isto é, exige “provas de habilidade para manter uma posição de liderança na igreja” (RIENECKER e ROGERS, 1997. p. 318). Através deste dom o obreiro é capacitado a administrar com eficiência incomum as coisas de Deus. Segundo o Pr. Claudionor C. de Andrade, José do Egito possuía esse dom.
2. “Devemos dar destaque primeiramente ao conteúdo, depois ao conteúdo e novamente ao conteúdo. Esse conteúdo precisa ter como base a revelação proposicional feita nas Escrituras, e toda a nossa liberdade sob a liderança do Espírito Santo deve estar enquadrada nos padrões delineados pela Bíblia. Precisamos ressaltar que a base de nossa fé não é nem a experiência nem os sentimentos, mas a verdade concedida por Deus, verbalizada, proposicional nas Escrituras, a qual acima de tudo, aprendemos com nossa mente, embora, é claro, o homem como um todo deva tê-la como fundamento”. (Schaeffer apud Deivinson Gomes Bignon – livro Voltando para a bíblia – 2002. Versão on-line).
3. ZIBORDI, Ciro Sanches. Apostila para escolas bíblicas, seminários e palestras.
4. RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego. 1997. Reimpressão. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo – SP.
5. Idem
6. Idem


Em Cristo,
Adriano Wink Fernandes
awinkfernandes@terra.com.br

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

SALMO 40:1-3


SALMO 40

"Ao mestre da música. Um salmo tão precioso foi entregue de modo especial ao mais hábil dos músicos sacros. A música mais nobre deve ser tributada a um assunto incomparável. A dedicatória mostra que o cântico foi feito para o culto público, e não foi composto para hino pessoal, como poderia se supor do emprego da primeira pessoa do singular. Um salmo de Davi. Conclusivo quanto à autoria: elevado pelo Espírito Santo à região de profecia, Davi foi honrado ao escrever com respeito de um muitíssimo maior do que ele próprio”(Spurgeon).

UMA ORAÇÃO DE DEPENDÊNCIA

O Salmo 40 inicia com uma clara declaração da oração feita e da resposta confiantemente esperada: “[...] Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”. A oração tem destino certo na vida do cristão: é dirigida ao Pai; a resposta também tem sua direção: vem do Pai para o filho que clama.

O inicio do Salmo nos mostra que há um tratamento de lapidação no caráter de quem ora, pois a resposta nem sempre é obtida de forma rápida e no tempo que humanamente precisamos. O homem que ora (todo o Cristão deve fazer isso) deve ter em mente que Deus resposnde segundo seu eterno e alto propósito para vida do Cristão. A paciência na espera já denota dependência e a certeza de que Ele ouve. O Senhor sabe da limitação humana e, de que muitas vezes nossas angústias são frutos de nossa impossibilidade de descansar, de confiar, de olhar para Sua eterna Soberania e de que em tudo Ele sabe o que faz, inclusive na aparente demorada resposta. No entanto o Senhor não se apressa para ‘nos livrar da angústia’, Ele deseja e trabalha para que passemos todas as fases necessárias ao amadurecimento do caráter segundo Cristo em nós.

"ESPEREI COM PACIÊNCIA PELO SENHOR"

A oração deve estar intimamente associada ao nosso reconhecimento de quem Deus É. Davi reconhecia Deus como o seu Senhor. Senhor dirige o nosso pensamento Àquele que tem o nome admirável sobre a terra (Sl. 8:1), que coordena e conhece todas as coisas; que merece nossa confiança; a quem deve ser dirigdo os clamores, intercessões, petições, orações.

A chegada do cristão ao trono da graça (Hb. 4:16; 10:19-22) já é uma prova de que temos esperança – de que esperamos algo. A esperança tem um ponto de partida, isto é, ela é a prova de que desejamos alguma coisa, de que temos em mente alcançarmos um objetivo, de que há algo em nossos desejos que apontam a necessidade de alcançar um alvo, uma vitória, um prêmio, uma solução, uma resposta. Na verdade não há esperança sem um objetivo, sem um alvo.

A esperança, no sentido bílbico cristão, é a virtude que vem após a fé depositada em Cristo (Rm. 5:2), não podemos definir quanto a isso, nem tempo, nem espaço. É algo realizado no espírito humano, por obra do Espírito Santo, e está intimamente ligada ao sacrifício de Cristo pelos nossos pecados (Rm. 4:25). Assim vemos que a origem da verdadeira esperança está em Cristo.

Paulo mostra que nós fomos justificados pela fé, conduzidos mansamente a paz por meio de Jesus Cristo, e levados amorosamente à sala da esperança na grandeza de Deus (Rm. 5:1-2). Dessa forma fica claro que a esperança, entre a fé e o amor, é a virtude que começa a fazer parte da vida do Cristão desde o seu primeiro passo de fé (I Co. 13:13).

O Cristão, ao nascer de novo, entra no caminho da esperança ajudado pelo Espírito Santo (Rm. 15:13). Porém a esperança é uma virtude que está no início da caminhada, dessa forma, ainda imatura, e é aperfeiçoada no decorrer da peregrinação, passando pelo caminho: das tribulações, da perseverança, da experiência, e esses três momentos ancorados na esperança e ao mesmo tempo em direção à esperança aperfeiçoada (Rm. 5:2-4); no escrever do Apóstolo, uma esperança abundante: “[...] para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm. 15:13).

A esperança tem alvo, e quando obtemos a resposta é inconfundível, não tem confusão, muito menos qualquer sombra de dúvida (Rm. 5:5). A esperança traz consigo a convicção.

Todo o Cristão espera: vitórias nas tribulações; vencer o inimigo; manter-se em pé; ser cheio do Espírito Santo; ser guiado pelo Espírito Santo; ter vitória pessoal, familiar; a volta de Cristo. Na verdade a vida cristã é um viver e um andar em esperança.

Davi confessa que esperou pelo Senhor. A sua espera foi ou não um tanto longa, já que muitas vezes o homem mede as coisas pela angústia, pela urgência de uma resposta diante de uma determinada situação de infortúnio. Mas ele esperou com paciência: “Esperei com paciência pelo Senhor [...]”, a esperança de Davi estava fundamentada em Deus - ... pelo Senhor; é uma demosntração de total dependência; é a prova de que Davi conhecia sua estrutura psicológica e emocional; reconhecia Deus como Criador e como Aquele que conhece a estrutura humana (Sl. 139:23; 139:15-16; 103:14; 138:7-8). A Bíblia registra semelhante espera do Patriarca Abraão: “E assim, tendo a Abraão esperado com paicência, alcançou a promessa” (Hb. 6:15).

Paulo falou que a verdadeira esperança consiste em esperar algo que não vemos, e esta esperança se dá com paciência (Rm. 8:25). A esperança cristã é baseada unicamente na promessa divina.

Os Apóstolos Tiago e Pedro usam a palavra perseverança. Perseverança é paciência, firmeza, fortaleza, e está ligada à esperança, pois só se persevera em algo que se espera, que tenha resultados benéficos. Tiago falou que enquanto a fé é provada a perseverança é desenvolvida, isto é, o Cristão se fortalece, se firma, aprende a paciência. A perseverança tem um alvo pré-definido no propósito de Deus para seus filhos e deve ter o seu fim alcançado, ao contrário haverá falta (Tg. 1:2-4; II Pe. 1:3-9). É importante notar o objetivo do agir de Deus: “Ora, a perseverança deve terminar a sua obra, para que sejais maduros e completos, não tendo falta de coisa alguma” (Tg. 1:4 – grifo meu).

Na espera paciente e perseverante deve o Cristão ter em mente, que a sua missão vai além túmulo, assim não podemos ver as aflições e provações como algo somente para esta vida, mas como um preparo para agora e para a eternidade (II Pe. 1:10-11).

“Ele se inclinou... e ouviu o meu clamor”A resposta de Deus é certa quando o Cristão clama. O Senhor olha aquém e além das nossas capacidades. Sua grandeza e soberania não o limitam quanto ao ouvir e responder as orações a Ele dirigidas, conquanto sejamos fracos e falhos.

A grandeza de Deus não é somente vista em Suas infinitas, conhecidas ou desconhecidas obras; mas também em Sua alegria em responder aos Seus filhos. Isaías diz que Ele vivifica os abatidos de espírito e os de coração contrito (Is. 57:15; 66:2; Sl. 51:17). Na verdade a angústia do filho clamando ao Pai faz com que se revele cada vez mais e de forma mais profunda à nossa finita mente os cuidados do Pai.

O ato de clamar mostra que o Cristão precisa do socorro divino. Revela a fragilidade do homem e a grandeza de Deus. E é a isso que Deus prazeirosamente se inclina para ouvir e responder segundo Seu grande e terno amor.

“TIROU-ME DE UM LAGO HORRÍVEL, DE UM CHARCO DE LODO... FIRMOU OS MEUS PÉS”

A condição em que se encontrava Davi era bastante difícil. Sua situação era de abandono e em lugar de extrema necessidade.

Talvez questionamos o porquê Deus nos permite estar em situação assim. O lago horrível e o charco de lodo apontam para um momento muito difícil e a incapacidade de poder vencer por si só. Foi dessas condições que Davi clamou, buscou socorro; era um momento de desespero e urgente acolhimento. Spurgeon diz que há um certo tipo de aranha que faz uma cova na areia, aloja-se no fundo e fica à espreita esperando os insetos que caem ali. Talvez em condição semelhante encontrava-se Davi: perdido num lamaçal onde o inimigo estava a escondida procurando lhe tragar.

A espera, por vezes parece ser um tanto antagônica, isto é, parece haver imcompatíbilidade da resposta em relação ao que pedimos: sabemos o que pedimos e nos angustiamos diante de Deus com as angústias que nos movem a alma, mas não sabemos como será a resposta do Senhor, e Ele geralmente nos surpreende com a Sua resposta, pois Ele opera além do que pedimos ou pensamos (Ef. 3:20; cf. Is. 55:8; Jr. 29:11). Conquanto “não sabemos o que havemos de pedir como convém” (Rm. 8:26), Deus não conhece somente nossas necessidades descritas, mas conhece muito além delas; Deus responde segundo a intenção do Espírito Santo que por nós intercede (Rm. 8:26-27).

Os benefícios da resposta pacientemente esperada transcendem as perspectivas humanas. A angústia de Davi e sua paciente espera parecem que tinham minado os seus pés: a fé e a esperança. Via-se ele trêmulo e apavorado diante de terríveis provações e a aparente quietude de Deus. Mas, porém quando Deus responde, Ele o faz de forma que toda a estrutura de Davi seja restaurada, sua fé é reavivada, reafirmada em Deus e sua esperança é totalmente correspondida.

A fé e a esperança, como pés, fala de uma estrutura espiritual que só poder ser firmada na Rocha, e essa Rocha é Cristo. Não existe verdadeira fé e esperança fora dEle. Davi, pela revelação do Espírito, aponta para Aquele que é poderoso para nos firmar, para ser a base amovível da nossa confiança. Quando Davi obteve a resposta, isto é, a intervenção divina, obteve o seguro necessário que sua alma anelava: de um lago horrível para firmeza dos pés na Rocha; de um charco de lodo para um caminhar de passos firmes. Era tudo o que Davi precisava, era a resposta perfeita diante de uma espera paciente.

“PÔS UM NOVO CÂNTICO NA MINHA BOCA, UM HINO DE LOUVOR”

Como disse acima, a resposta de Deus vai além do que pensamos ou pedimos. Davi rejuvenesceu-se por completo quando viu os seus pés firmes e seus passos em direção segura. Porém Deus tinha mais, muito mais.

Por vezes no meio do vendaval o cântico se torna um murmúrio de clamor e gemidos. São momentos em que a adoração é externada numa confiança depositada no Deus que pode redimir. Coré ansiava pela presença constante de Deus, desejava o Seu amor de dia, e na noite escura da prova, dizia, que a oração seria a sua canção (Sl. 42:8).

O novo cântico, o hino de louvor, falam do júbilo renovado. A alma de Davi se viu em emaranhados de angústias e apertos, porém agora se via a cantar o cântico da vitória, era um cântico totalmente novo, até o momento desconhecido para ele, era o cântico que veio pelo Espírito Santo; o hino que exaltava a Deus como criador, remidor, sustentador, ouvidor, renovador, soberano, onisciente, onipresente, onipotente. Só Ele é capaz de firmar os pés daquele que nEle confia.

São louvores que vem para confirmar a vitória, e ainda revigorar para novas conquistas em nome do Senhor. Semelhante cântico e semelhante hino tiveram Moisés e Miriam (Ex. 15:1-22); Josué e Israel (Js. 6:15-16); Débora e Baraque (Jz. 5:1-32); Jesus Cristo (Mt. 26:30); Paulo e Silas (At. 16:25).

A vitória do Cristão vai além dos seus limites, ela exlata ao Senhor e torna o nome de Deus ainda mais conhecido e temido: “[...] Muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor”.

É essa vitória que o Senhor tem para os salvos! Quem espera com paciência pelo Senhor é bem-aventurado!

Em Cristo,
Adriano Wink Fernandes

sábado, 12 de julho de 2008

FILIPENSES 4:13


“POSSO TODAS AS COISAS NAQUELE QUE ME FORTALECE”.
Apóstolo Paulo – Filipenses 4:13

Creio por convicção que nada que está escrito na Palavra de Deus é por um acaso das circunstâncias; ou como afirmações positivas (tão louvadas nesse tempo presente) para se conseguir um estado mental no qual se impregne um sentimento positivo de conforto e vitória, porém passivo de desmoronamento a qualquer momento. Todo o estudo da Palavra de Deus deve ser (a meu ver) tomado com muita seriedade e, buscado com a ajuda do Espírito Santo um entendimento que nos leve não só a compreender, mas também aceitar e viver aquilo que nos é comunicado pelo Espírito do Senhor, o que certamente conduzirá ao crescimento individual, e conduzirá à unidade do Corpo de Cristo: “[...] mantendo unido à Cabeça, do qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo com o aumento concedido por Deus” (Cl. 2:19; cf. 4:11-13 e Fp. 1:6).
Sendo assim, podemos ver que há um propósito de Deus em cada acontecimento: vitórias, lutas, provações (Rm. 8:28). Dessa forma, para entendermos como Paulo chegou a tão nobre e profunda declaração se faz necessário uma pesquisa na vida do Apóstolo como também um estudo sobre como e em quais circunstâncias o evangelho chegou a Colônia de Filipos, na Macedônia, e o que cooperou para a maturação dos crentes ali.
A CIDADE DE FILIPOS
Seu nome origina-se de Filipe da Macedônia, que a conquistou dos tásios cerca do ano 300 a.C. Era rica em mineração e ouro, e ali se faziam moedas cunhadas com o nome de Filipe. Após a batalha Pidna, em 168 a.C. a cidade foi anexada pelos romanos. A partir daí passa a ser (a primeira) Colônia Romana para a qual César enviou veteranos soldados romanos e deu a todos os habitantes o título de cidadão do Império romano, o que causou grande orgulho em todo o povo (At. 16:21).
Porém, para o nosso estudo, Filipos tem uma importância bem mais elevada e de imensurável profundidade do que a anterior citada. É de grande relevância no contexto do evangelho, pois, foi a primeira cidade da Europa em que Paulo pregou o Evangelho. E isto se deu, na segunda viagem missionária, por uma visão do Espírito Santo: “Paulo teve de noite uma visão em que se apresentou um homem da Macedônia, que lhe rogava: Passa à Macedônia, e ajuda-nos [...] Filipos, a primeira cidade dessa região da Macedônia” (At. 16:9,12). É importante notar que esta visão mudou totalmente os planos de Paulo e Silas, acompanhados por Timóteo, pois a Macedônia não estava nos planos e talvez nem no coração deles para essa ou outras viagens (At. 16:6-8).
O INÍCIO DOS TRABALHOS EM FILIPOS
Em Atos capítulo 16 temos registros de como o Evangelho chegou a Filipos. Como já dissemos Paulo, Silas e Timóteo foram até a Macedônia em virtude de uma visão do Espírito Santo. Certamente acompanhava-os nesta viagem o médico Lucas, autor do livro de Atos.
O registro nos traz que estiveram alguns dias na cidade de Filipos: “Dali para Filipos, a primeira cidade dessa região da Macedônia, e é uma colônia. Estivemos alguns dias nesta cidade” (At. 16:12). Quantos dias não sabemos, mas o tempo suficiente para se travar batalhas ferrenhas contra as forças espirituais da maldade, o que lhes causou grandes perseguições e até prisão, mas que não desfaleceram. Como eles estavam exclusivamente para o trabalho do Senhor, ocuparam-se em anunciar as Boas Novas, oração e louvor (At. 16:13,16,25), o que deixa claro que não havia tempo para qualquer outra coisa, o que, se acontecesse seria um desvio da visão que salientava, em rogos, ajuda-nos. A palavra rogar significa chamar ao lado, era um clamor que denotava urgência e exigia pronto atendimento, o que houve: “Logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At. 16:10).
AS AFLIÇÕES DE PAULO E A SUA VISÃO ESPIRITUAL
“Pois vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, como também o padecer por ele, tendo o mesmo combate que já e mim vistes e agora ouvis que é meu” (Fp. 1:29). Já vemos aqui uma marca indelével da razão do versículo em estudo (Fp. 4:13).
Paulo mostra que somente crer em Cristo é pouco para o cristão: O verbo ἐχαρίσθη (aoristo da voz passiva de χαρίxw) tem como significado “dar graciosamente; Deus nos outorgou o privilégio do sofrimento por amor a Cristo; este é o sinal mais seguro de que Ele olha por vocês com benevolência”. Somente com este versículo se derruba por terra uma série de heresias e doutrinas de homens que se tem levantado nos dias de hoje dizendo que o cristão está imune ao sofrimento; não pode passar por necessidades e (até) ousam dizer que se isto tiver acontecendo é por causa de algum pecado.
O Apóstolo só aprendeu o que aprendeu, e pode transmitir à igreja com segurança a Palavra de Deus, e ser exemplo para a Igreja porque experimentou o que lhe foi concedido por Cristo: “[...] pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. E quero irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior avanço do evangelho. De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais. Muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com minhas cadeias, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor” (Fp. 1:9,12-14).
Um estudo do livro de Atos leva-nos a profundas descobertas de como Paulo (e a Igreja) encarou todas as perseguições. Em nenhum momento o Apóstolo colocou em dúvida o que havia aprendido “[...] para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp. 1:21). Os mais belos louvores em toda a palavra vieram após experiências profundas de livramento ou após momentos intimidade com Deus. Revelam-nos profundamente o caráter de Deus, e o que Ele pode fazer. Não são de forma alguma declarações de efeito, positivismo ou determinação humana diante da soberania divina.
A Bíblia é riquíssima do agir de Deus em momentos de extrema exaustão humana:
1. Hagar, após um momento de angústia, é animada pelo anjo do Senhor e diz: “[...] Tu é Deus que vê, pois disse ela: agora olhei para Aquele que me vê” (Gn. 16:13);
2. Abraão após estar no monte Moriá em obediência ao Senhor diz: “[...] chamou Abraão aquele lugar de o Senhor proverá. Daí dizer-se até o dia de hoje: no monte do Senhor se proverá” (Gn. 22:14);
3. Moisés após a sua experiência com Deus no deserto de Mídia ouviu o Senhor lhe dizer: “EU O QUE SOU [...] EU SOU me enviou a vós” (Ex. 3:14);
4. Miriã, após a travessia do mar cantou: “Cantai ao Senhor, pois sumamente se exaltou, e lançou no mar, o cavalo com seu cavaleiro” (Ex. 15:21);
5. Débora após grande livramento do Senhor entoou um cântico exaltando a Deus pelo Seu grande livramento (Jz. 5);
6. Habacuque escrevendo sobre a grandeza de Deus, revela que mesmo em profundas crises ou momentos de desespero pode dizer pela fé: “[...] o Senhor é a minha força” (Hc. 3:17-19)
Poderíamos citar numerosas passagens onde se vê claramente a mão poderosa de Deus operando a favor dos seus filhos. Vemos em cada versículo a revelação da grandeza de Deus.
Dessa forma podemos entender porque recebemos graciosamente o padecer por Cristo. Tudo aquilo que o Senhor opera em nós é para crescimento, para aprofundamento dos alicerces da nossa vida espiritual na Rocha Perfeita. O que quis mostrar com os exemplos acima é que não haveria tais registros se Deus não tivesse enviado as provações, as dificuldades, os inimigos, as lágrimas. É importante notar que o operar de Deus vai além do nosso entendimento racional, Ele sempre quer elevar a nossa confiança a níveis superiores e em nós glorificar o Seu nome (I Pe. 1:6,7). Tiago nos revela pelo Espírito Santo que a prova da nossa fé passa por um processo de desenvolvimento nos conduzindo à maturidade a tal ponto de não termos falta coisa alguma (Tg. 1:2-4).
As provações são para o aperfeiçoamento do caráter do cristão. Quando entendidos pela perspectiva do Espírito Santo – isso em atitude de oração e dependência – trazem resultados que vão além do que podemos imaginar. O que o Senhor opera em nós sempre alcança aos outros membros do Corpo de Cristo (Ef. 4:16).
A IGREJA DE FILIPOS
A igreja de Filipos foi amadurecendo a medida que teve experiências com Deus através das provações. O Espírito Santo havia iniciado neles uma obra de maturação que culminaria no dia Cristo. Ao lermos a seqüência da carta veremos que esta obra passava pelos caminhos da provação, e que havia iniciado ainda lá na segunda viagem missionária; ainda nos primeiros passos da fé já presenciaram como era a vida com Cristo: crer nEle e padecer por Ele.
Paulo mostra-lhes que havia muitos adversários, os quais deveriam ser enfrentados simplesmente portando-se conforme o Evangelho. Esse portar é uma exigência que se refere ao amor, discernimento, frutos de justiça, firmeza e unidade em espírito, ânimo e fé no evangelho; veja que não é um enfretamento, mas sim, uma posição firme em Cristo, e Paulo reforça seu conselho dizendo que eles já haviam visto estas coisas em seu combate.
Paulo procura comunicar-lhes a supremacia do senhorio de Cristo, mostrando quem Ele era e como se portou para conduzir os pecadores à posição de filhos legítimos de Deus, e que, devido a isso tinham eles responsabilidades com relação ao processo do crescimento espiritual.
A palavra efetuar (2:12) é usada para mostrar aos filipenses que eles tinham responsabilidades com relação ao desenvolvimento da salvação na vida de cada um e da própria igreja; é uma palavra que salienta que toda ação gera (produz) um resultado (II Co. 7:10; 9:11), o mesmo pensamento revelado é reforçado por Tiago: “Pelo que, despojando-vos de toda a impureza e de todo o vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tg. 1:21). O Apóstolo mostra que os filipenses deveriam ter uma atitude baseada no exemplo de Cristo, do que Ele era e fez: esvaziamento (que nos fala de renúncia), serviço (que fala dEle como servo), obediência e humilhação (morte de cruz – renúncia).
O pensamento amplia-se a medida que Paulo comunica-lhes o conhecimento de Cristo, que vale muito mais que confiar na carne, isto é, em benefícios que poderiam ter devido a posição alcançada ou de nascimento, mas que se desfaz diante da fé genuína em Cristo (Fp. 3:1-11); apontando-lhes a pessoa de Cristo Jesus como alvo perfeito, o qual deve ser buscado e alcançado por todo aquele que um dia abraçou a fé.
Paulo os aconselha que sejam seus imitadores e façam o que tinham nele visto, e em 4:14 diz que eles tomaram parte, isto é, foram co-participantes, compartilharam das aflições do Apóstolo, o que nos mostra que a igreja entendeu claramente o que o Espírito Santo lhes comunicou por meio de Paulo, e que entenderam bem que o padecer por Cristo produz eterno peso de glória, acima de toda a comparação, é o que podemos ler no v.19 “E o meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo a Sua gloriosa riqueza em Cristo Jesus”.
Pelos ensinos e revelações do Espírito Santo à Igreja de Filipos, posso ver que era uma igreja que pôde ver Paulo e Timóteo realmente como servos de Cristo Jesus (Fp. 1:1), e que não somente os escritos moldaram a vida deles em Cristo, mas também o exemplo visto em Paulo, Timóteo e Epafrodito. Entenderam tenazmente que aquilo que foi escrito era o que estes homens tinham vivido, e que tanto o regozijar como o sofrer por Cristo levava aos mais excelentes momentos incomparáveis e eternos em glória.
O ALCANDE DA DECLARAÇÃO PAULINA
A declaração paulina “posso todas as coisas naquele que me fortalece” não foi simplesmente um pensamento que ‘caiu do céu’ ou algo dito num momento de elevo poético. De forma alguma. Paulo diz depois de muitas cadeias, açoites, perseguições, traições, frio, fome, sede, fartura, necessidade, abandono. Creio que este versículo terá o mesmo efeito na nossa vida se deixarmos o trabalhar do Espírito Santo em nós, nos levar pelos mesmos caminhos os quais Paulo (e tantos outros) passou, e que antes dele, Cristo já havia passado “Porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb. 2:18; ver I Co. 11:1; Fp. 1:6).
Deus não quer que simplesmente decoremos alguns versículos que achamos ‘bonitos, interessantes’, mas Ele quer que a Palavra tenha efeito completo em nós, realmente produza fé em nós, amadureça-nos, levando a comunhão íntima com o Espírito Santo, e seja abundante na vida do cristão (Cl. 3:16). E esse caminho não é tão fácil assim, passa pelos escarpados caminhos das lágrimas (Rm. 5:1-5). O capítulo 4 de II Coríntios nos traz uma profunda revelação das provações e, vale a pena transcrever os últimos versículos: “Por isso não desfalecemos. Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Pois a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda a comparação. Portanto, nós não atentamos nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas” (II Co. 4:16-18).
Quando falo em alcance da declaração paulina, me reporto também as experiências dos irmãos do Antigo Testamento. Eles também foram forjados na fornalha da aflição. Passaram sede, fome, enfrentaram inimigos ferozes, estiveram escondidos em cavernas, foram execrados, humilhados, desprezados, mas em meio a tudo isto ele puderam cantar hinos de vitória, veja o que disse Jó: “Eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. [...] vê-lo-ei por mim mesmo, com os meus próprios olhos. Como o meu coração anseia dentro de mim” (Jó 19:25,27; cf. 42:5).
Hebreus 11 descreve (com exemplos) a importância de nos submetermos ao Senhorio de Cristo. A verdade é que Deus tem revelado coisas profundas, no cadinho do sofrimento, através da vida de seus filhos. Foi na confiança, a fé firmada em Deus, que nas mais duras provas e circunstâncias adversas houve sacrifícios mais excelentes; trasladação; Noé herdou a justiça; Abraão peregrinou por terra estranha sem saber para onde ia e confiou que das cinzas Deus ressuscitaria Isaque; Sara foi rejuvenescida para ser mãe; desejavam uma pátria melhor; Moisés foi escondido e quando crescido recusou a dinastia de Faraó, veja o que diz o texto: “Teve por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito, porque tinha em vista a recompensa” (Hb. 11:26 – grifo meu); atravessaram o mar Vermelho; derrubaram muros; da fraqueza tiraram forças; escaparam do fogo; tornaram-se poderosos na batalha. A Palavra de Deus é tremenda, e creio que estes também poderiam dizer “posso todas as coisas naquele que me fortalece”, pois viveram a cada momento na dependência dEle!
A declaração paulina tem um alcance para nós nos dias de hoje, mas não simplesmente para dizermos o que ele disse, mas vivermos de tal forma e podermos dizer com conhecimento e experiências em Cristo dadas pelo Espírito Santo que realmente é Ele que nos fortalece. Sem passarmos por (duras e marcantes) provas não poderemos dizer o que disse o Apóstolo.
Nessa conclusão vale a pena citar o que dize A.W. Tozer: "Deus não pode usar ao máximo uma pessoa enquanto esta não for profundamente ferida".
É necessário “não somente o crer nele, como também o padecer por ele”, para depois, com ousadia no Espírito Santo dizermos “Posso todas as coisas Naquele que me fortalece”.

Em Cristo,
Adriano Wink Fernandes
awinkfernandes@terra.com.br